No projeto "Banco dos Irreais", o mexicano José Miguel Casanova quer estimular a troca direta de tempo, serviços e experiências entre as pessoas sem a intermediação de dinheiro. Instalação de "agência" bancária dos irreais está exposta no MAR até 13 de junho.
Instalação artística do Banco dos Irreais no MAR (Foto: Anyatzin Ortíz)
Debaixo de uma das escadas do Museu de Arte do Rio (MAR), há uma pequena faixa de areia, algumas cadeiras de praia e um laptop. Ali, transeuntes podem se cadastrar e abrir suas contas no Banco dos Irreais, instituição criada pelo artista plástico mexicano José Miguel Casanova, professor da Universidade Nacional do México (Unam), para estimular a troca e valorização de tempo, experiências e serviços.
Nesse Banco dos Irreais, a moeda circulante é o irreal, que vale cerca de uma hora. Um abraço ou uma aula de autoCAD podem ter o mesmo valor, assim como um passeio de patins. Os correntistas do banco não buscam acumular milhares de irreais, mas oferecer seus conhecimentos — e até companhia —, visando uma ação colaborativa entre indivíduos. José Miguel explica a escolha do ambiente litorâneo para o cenário do projeto: "Ela [a praia] representa o espaço público, um lugar de encontro e troca entre os cariocas. Ilustra a proposta do banco."
A instalação artística do Banco dos Irreais fica no MAR até 13 de junho, mas o último evento ligado ao projeto, com a presença do criador, acontecerá no dia 25. O encerramento terá mesas com diálogos simultâneos, livre circulação e contará com uma feira de troca de irreais. O conteúdo do Banco dos Irreais e as dicas postadas no site virarão um livro sobre como viver melhor sem dinheiro.
Após a volta de José Miguel ao México, a ideia é que a Universidade das Quebradas dê continuidade ao Banco dos Irreais no Rio. "As parcerias com o museu e a UQ melhoram o alcance e chamam mais adesões porque são plataformas humanas. Esse papel a internet não consegue cumprir", explica o artista.
Moeda solidária
O conceito de moedas solidárias ou sociais não é novo. Elas costumam ser desenvolvidas em lugares com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) para estimular a economia da região. Uma das pioneiras no país é a moeda social Palmas, criada em Fortaleza pelo banco comunitário homônimo, que já tem versão eletrônica (e-dinheiro Palmas). O estado do Rio tem entre 6 a 10 bancos comunitários, dos quais o mais recente fica em Maricá — onde a "mumbuca" tem participação real na economia da região.
Para José Miguel, essas moedas sociais geralmente ficam restritas a regiões bem específicas e acabam sendo inseridas de alguma forma no mercado tradicional, adquirindo responsabilidades econômicas. Mas isso não aconteceria com os irreais, segundo o artista plástico, pois a circulação de moeda seria ampliada para toda a cidade e o irreal não tem as mesmas responsabilidades estabelecidas pelo mercado tradicional.
Toda determinação de valor e troca dos irreais é decidida pelos participantes em qualquer transação. "A economia financeira é uma loucura. Tudo isso que vem acontecendo no Brasil e na América Latina não vai parar enquanto não nos organizarmos de forma diferente. Para mim, a organização cidadã é a saída", comenta José Miguel. "É uma forma de garantir maior independência da sociedade e equilibrar sua relação com o mercado e o Estado."
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