A 15ª Mostra de Arquitetura da Bienal de Veneza deste ano vai dedicar atenção especial ao Rio de Janeiro. Dos 15 projetos selecionados para a mostra "Juntos", de curadoria do arquiteto Washington Fajardo, nove foram criados por organizações, artistas e produtores culturais cariocas. Desenvolvidos em diferentes bairros da cidade, os projetos conciliam a escassez de investimento com o respeito às demandas locais e culturais de cada região.
Um circo para jovens e adolescentes na Praça Onze; um centro cultural em Madureira; uma horta pública no Vidigal. Parecem — e são — projetos sociais de atuação local, mas logo ganharão alcance internacional: eles foram escolhidos para integrar o Pavilhão do Brasil na 15ª Mostra de Arquitetura da Bienal de Veneza. De 28 de maio a 27 de novembro deste ano, a exposição "Juntos", de curadoria do arquiteto Washington Fajardo, exibirá 15 projetos brasileiros desenvolvidos por organizações da sociedade civil, ativistas e artistas.
Nove dos selecionados são do Rio de Janeiro, o que revela o potencial de inovação e desenvolvimento social de diversos pontos da metrópole. Presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Fajardo selecionou iniciativas que pipocaram nos últimos anos em diversos pontos da cidade, do Centro e da Zona Sul à Zona Norte. Muitos dos projetos selecionados têm foco na cultura afro-brasileira e a maioria tem caráter inclusivo.
Zona Norte
Um deles é a Casa do Jongo, em Madureira. Parceria entre os arquitetos do Rua Lab e a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha, o espaço levou seis anos até ser inaugurado, em 2015. Fica num galpão antes abandonado no Morro da Serrinha. “Conseguimos enxergar potencialidade num lugar degradado. Demolimos mais do que construímos”, comenta Pedro Évora, arquiteto do Rua Lab e responsável pelo projeto.
O novo centro cultural — com foco na herança afro-brasileira — realiza oficinas de dança e música, exposições e festividades culturais. “A cultura negra tende a ser esquecida, mas estamos num momento de valorização. Essa direção permite criar mais centralidades”, explica.
Ainda da Zona Norte, também foi selecionado para a mostra o projeto "Placas de Rua da Maré", coordenado pela artista Laura Taves em parceria com a ONG Redes da Maré. O projeto, que envolveu a produção de placas de rua de cerâmica nas ruas da comunidade, tem o objetivo "exercer o reconhecimento do bairro e sua identidade", explica Laura Taves. Segundo ela, a sinalização das ruas é fundamental no processo de situar os moradores e incluí-los em seu próprio território. “Antigamente, as pessoas não diziam onde moravam por preconceito ou por não terem um endereço formalizado”, comenta.
O projeto nasceu do Censo Territorial desenvolvido pela Redes, que mapeou o território, ouviu moradores para identificar as vias e lançou o Guia de Ruas da Maré. As placas têm o mesmo modelo daquele visto em outras partes da cidade: contêm o nome da rua, a explicação, os números e o CEP. E o projeto das placas foi, digamos, "institucionalizado". Em 2015, foi criado um grupo de trabalho na Secretaria Municipal de Urbanismo da cidade, que passou 7 meses no bairro, oficializando rua por rua. O resultado do processo saiu em abril deste ano, quando os decretos oficializando as ruas da Maré foram publicados no Diário Oficial.
Centro e Zona Sul
Já no eixo Centro-Zona Sul, um dos projetos escolhidos foi o Ciclo Rotas Centro, realizado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), pela Transporte Ativo e pelo Studio – X Rio, com o objetivo de fortalecer as ciclovias cariocas. A partir de conversas com setores da sociedade civil, as organizações perceberam que era preciso ir além das propostas de ciclovias existentes para atender à demanda da cidade. "Estamos acostumados a uma cultura na qual somente o engenheiro ou arquiteto são considerados aptos a discutir, propor e produzir cidade”, explica Clarisse Linke, diretora executiva do ITDP Brasil.
Foram, então, realizados workshops, pesquisas de campo e contagens do fluxo de bicicletas. Os resultados da parceria multilateral do Ciclo de Rotas tem como alguns exemplos a inauguração da ciclofaixa da avenida Graça Aranha, ligando o Centro à Zona Sul. Também foram instalados 90 bicicletários e 58 estações de bicicleta compartilhada.
Na Praça 11, o Circo Crescer e Viver foi outro selecionado para a mostra. Criado pelo produtor cultural Junior Perim, o circo oferece aulas de circo para jovens, especialmente os da periferia. Com o sucesso da iniciativa ao longo dos anos, veio a demanda por mais espaço — o que levou ao projeto arquitetônico elaborado por Rodrigo Azevedo. “O projeto se organiza a partir de três programas de uso: uma nova sala para ensaio/espetáculo, um espaço para residência artística e uma área para pesquisa, leitura e reuniões”, explica Rodrigo. "[A participação de seu projeto na Bienal] será um manifesto da sociedade civil brasileira pelo seu protagonismo na produção de cidades", completa.“Todos que clamam pela melhoria de nossa cidade são, na prática, para além de sonhadores: são lutadores urbanos”, enfatiza Clarisse Linke.
Além desses, mais cinco projetos cariocas também farão parte do pavilhão do Brasil em Veneza: Escola Vidigal, Circuito Herança Africana (Instituto do Patrimônio da Humanidade), Parque de Madureira, Parque + Instituto Sitiê e o Selo de Qualidade MCMV (Instituto Casa).
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