O curta "Rainha ", roteirizado e dirigido por Sabrina Fidalgo, aborda o universo do carnaval, discute as imposições do padrão de beleza e a busca por superação. A estreia é nesta sexta-feira, 4/11, às 21h, no Cine Odeon
Foto: Divulgação
O universo do samba na cultura do Rio de Janeiro é uma das discussões de "Rainha", o sexto curta metragem da diretora, produtora e atriz Sabrina Fidalgo. O filme, que estreou oficialmente em julho deste ano no Festival Ver e Fazer Filmes, em Cataguases (MG), conta a história de uma jovem que sonha em ser a rainha da escola de samba de sua comunidade. Após muitas tentativas, ela ganha o título e entra em um penoso processo de transformação de seu corpo. O curta ganhou os prêmios de Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Som e Melhor Figurino. Nesta sexta-feira, 4 de novembro, às 21h, o filme estreia no Rio de Janeiro, no Panorama Carioca do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro – Curta Cinema.
Curiosamente, a inspiração para a obra foi a versão em italiano da música “Ela desatinou”, de Chico Buarque, gravada por Ennio Morricone na década de 60, em Roma. Ao escutar a música, Sabrina Fidalgo era sempre invadida pela imagem de uma mulher vestida de rainha de bateria, como em um videoclipe. A partir dessa visão, começou a escrever o roteiro do curta, filmado em Minas Gerais. “Eu queria filmar no carnaval do Rio, mas era muito caro e inviável. E como ganhamos o edital do projeto Usina Criativa, decidimos fazer em Minas, onde teríamos estrutura.”
Sabrina Fidalgo roteirizou, dirigiu, atuou e produziu os curtas “Sonar 2006 – Special Report” (2006), “Das Gesetz des Stärkeren” (“A Lei do Mais Forte”, 2007), “Black Berlim” (2009), “Cinema Mudo” (2012), “Personal Vivator” (2014) e agora " Rainha". Seus próximos projetos incluem o documentário “Cidade do Funk”, um inventário do funk carioca e mais dois curtas. A diretora conversou com a equipe do Vozerio sobre seu novo curta, sua carreira e a indústria audiovisual brasileira.
Esse é seu primeiro curta com uma mulher negra como protagonista, e você é uma das raras cineastas negras conhecidas do Brasil. Ainda há muitas barreiras para a inclusão de pessoas e personagens negros na indústria audiovisual brasileira?
Está muito devagar. Temos muitas barreiras e dificuldades. Ainda é muito difícil para pessoas negras arrecadar verbas, conseguir produtores para determinados projetos, ter filmes em determinados festivais. Parece que existe uma barreira silenciosa que não permite que produtores e cineastas negros andem para frente. Sabemos quem são essas pessoas, são curadores, programadores brancos que sempre criam uma desculpa para não divulgar ou apresentar seu filme. E isso está ligado a essa hegemonia branca no audiovisual brasileiro Somos boicotados todos os dias. Temos que disputar espaço, porque enquanto o poder pertencer a essa classe de gênero e raça, vamos continuar excluídos. Temos que exigir que festivais tenham um quadro de curadores diverso, que os pareceristas dos editais também sejam diversos. Com relação aos personagens, precisamos começar a escrever sobre a gente. Não adianta esperar alguém ocupar nosso lugar de fala. Só que para isso precisamos de oportunidades.
Seus filmes refletem a diversidade e a desconstrução de estereótipos e estigmas sociais e raciais. Você considera seus filmes políticos?
Não necessariamente. Já fiz filmes sobre festivais de música, sadomasoquismo, compulsão por internet. Eu só tenho na verdade três filmes mais políticos, o "Black Berlim", "Personal Vivator" e "Rainha", principalmente os dois primeiros. "Rainha" não é político na estrutura narrativa, mas é visto como político porque tem uma mulher negra no papel principal. Na verdade, é um filme sobre sonhos e superação. E u não quero ficar nesse lugar de ter de fazer sempre filmes ligados a questão social ou étnica.
Você considera legítimo falar em cinema negro ou isso seria limitador?
Acho que é limitador. Porque o que existe é um cinema branco e as pessoas não entendem. O negro é a representação do povo brasileiro. Vivemos em um país de maioria negra, como falamos em cinema negro? Temos que questionar o cinema branco tentando inverter esse olhar colonizador para seu devido lugar. Eu não quero fazer parte de nenhuma gaveta e não quero ficar me restringindo. Eu faço cinema brasileiro. Essa nomenclatura é uma diminuição do nosso trabalho.Por que quando brancos fazem cinema isso é chamado de cinema brasileiro e quando os negros fazem, é chamado de cinema negro?
Você é uma diretora e roteirista premiada, seus curtas já circularam em festivais e mostras em diversos países. Você acha que o cinema brasileiro está sendo mais valorizado dentro e fora do país?
Temos uma falsa impressão de que está sendo mais valorizado, mas na verdade não está. Eu só vi um sucesso brasileiro em outros países: "Cidade de Deus". Nada se comparou a isso. Eu vi esse filme ser lançado em dois países diferentes. As pessoas faziam filas para assistir. Os outros filmes brasileiros não conseguiram chegar a esse nível de valorização. O que acontece é que nos últimos anos surgiram várias políticas públicas de fomento para o cinema e isso proporcionou quase que um renascimento da indústria, mas não temos uma projeção muito grande ainda.
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