Através de fotos históricas e atuais, debate do ciclo "Rio de Encontros" abordou a importância da fotografia na construção da imagem da cidade. Registros vão da Praia Vermelha ao Morro da Providência, de 1840 aos dias atuais.
(Foto: Maurício Hora)
Da primeira foto tirada no Rio de Janeiro, em 1840, até os registros de conflitos nas favelas dos dias de hoje, a fotografia tem sido essencial para a construção de narrativas sobre a cidade. Na quinta-feira, 29 de outubro, o debate “Rio de imagens: fotografia e narrativas da cidade", realizado no auditório da ESPM, no Centro, abordou o papel deste meio ao longo de mais de 250 anos e as suas transformações como linguagem.
O evento foi mais um da série Rio de Encontros, realizada pela oscip O Instituto, com patrocínio da Escola Superior de Propaganda e Marketing. Participaram Ana Maria Mauad, professora do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF); Maurício Hora, fotógrafo e criador da cooperativa Zona Imaginária; e Pedro Vasquez, escritor e curador, além da da fotógrafa e cientista social Kita Pedroza, como mediadora.
Para Mauad, a fotografia pode funcionar de três maneiras diferentes: documento, monumento e agente da história. A professora também comentou a dificuldade de analisar os registros em meio ao que chamou de "mar de imagens". “O desafio é não se anestesiar”, pontuou.
Vasquez, que apresentou uma série de fotos históricas do final do século XIX, acredita que a facilidade das novas tecnologias não coloca todos em um patamar de igualdade. “Não é que todo mundo é fotógrafo. Qualquer um pode tirar foto”, ressalta. Assim como muitos podem escrever, mas quase ninguém pode ser comparado a Machado de Assis, completou.
Já Maurício contou algumas de suas histórias no Morro da Providência, na Zona Portuária, onde sempre morou e realizou a maior parte de seu trabalho. O fotógrafo explicou que a Polícia Militar tem sido uma barreira maior que o tráfico de drogas para o seu trabalho, e ressaltou que até hoje precisar tomar certos cuidados, como evitar andar com a câmera exposta e não usar tripé, que poderia ser confundido com uma arma.
Fotografia a serviço da diplomacia
Mauad considera a foto acima um documento, já que é fonte histórica. Dois detalhes foram destacados, por revelarem aspectos da tecnologia da época: a lâmpada, que se vê pela janela pendurada em um fio, acima da rua, era movida a gás; sobre a mesa está um ventilador, que já utilizava energia elétrica.
Já a foto “Os trinta Valérios”, de Valério Vieira, é classificada como um monumento. A fotomontagem de uma cena musical, na qual o autor aparece em todos os personagens, é uma experiência artística em um meio ainda recente.
Esses conceitos, contudo, não são fechados: a primeira também pode ser entendida como monumento, porque realiza uma valorização do trabalho, afirma a professora. E a segunda, de certa forma, funciona como documento, já que evidencia a técnica utilizada na época.
O exemplo de fotografia como agente da história foi o trabalho da norte-americana Genevieve Naylor, que fotografou o Rio de Janeiro na década de 40 com um fim específico: aproximar os Estados Unidos e o Brasil.
O trabalho fez parte da Política de Boa Vizinhança, iniciativa do governo americano para se aproximar dos países da América Latina. “Ela produz um conjunto de imagens que buscavam criar a face do bom vizinho”, relata Mauad.
Registros históricos
A primeira foto tirada no Brasil – e na América Latina – retratou o Paço Imperial, no Centro, em 1840. O instrumento utilizado foi um daguerreótipo. Vasquez explicou que o autor, Louis Compte, era amigo de Louis Daguerre, inventor do método. Por conta da amizade, Compte conseguiu trazer o mecanismo para o Brasil apenas seis meses depois de sua primeira utilização.
A foto foi tirada pelo suíço George Leuzinger, na Rua da Direita (que teve posteriormente o nome trocado para Primeiro Março), em 1865. O local, explica o escritor, era um ponto chique, já havia que estava ali uma das primeiras lojas da cidade a vender sorvete.
Marc Ferrez, considerado o principal fotógrafo brasileiro do século XIX, registrou, em 1880, a Escola Militar que havia na Praia Vermelha. Anos mais tarde, em 1935, o prédio foi demolido, dando lugar à Praça General Tibúrcio.
Conflitos com a polícia
Em 2008, o Exército ocupava o Morro da Providência. Depois da morte de três jovens, com participação de militares, um grupo de moradores realizou um protesto e retiraram a bandeira que ficava ao lado da base Exército na comunidade. Maurício registrou o momento.
A Casa Amarela é um espaço cultural da comunidade, onde Maurício já expôs trabalhos. Ele reclama, no entanto, que policiais militares já arrombaram a porta do local três vezes, por considera-lo suspeito.
Também em 2008, o fotógrafo francês JR realizou um trabalho na comunidade em que tirava fotos dos moradores, para expor depois nas fachadas de casas e outras construções. Maurício acompanhou o artista, servindo de guia e documentando seu trabalho.
Prometida por Eduardo Paes para o ano passado, obra depende agora do aval de Marcelo Crivella
Visitante acusa namorado de funcionária de discriminação durante ida ao local na última sexta (30)
Livro reúne soluções mirabolantes já propostas para os problemas de um dos principais cartões-postais do Rio