Nas duas últimas semanas, os moradores do Jacarezinho sofreram com violentos confrontos entre policiais e traficantes dentro da comunidade. O que causou o fim do prazo de validade da paz?
Em outubro de 2012, em apenas 15 minutos, foi implantada no Jacarezinho uma Unidade de Policia Pacificadora (UPP). Como nas outras chamadas “comunidades carentes”, o governo empurrou o programa goela abaixo, com o discurso de que iria proporcionar segurança e melhores condições de vida. Só faltou o carimbo: “válido até 2015”.
Apesar de a comunidade do Jacarezinho, na época, ser considerada uma das mais violentas e perigosas do Rio de Janeiro, na ocasião, como se houvesse um pacto, não houve confronto. Passamos três anos sem conflitos – eu até tinha me esquecido do som dos tiros.
Porém, nas duas últimas semanas, os moradores do Jacarezinho foram surpreendidos por violentos confrontos entre policiais e traficantes dentro da comunidade, que culminaram na morte de três policiais e deixaram também pessoas feridas.
Durante uma semana houve tiroteios diários, levando pânico aos moradores, que há muito não se deparavam com tamanha violência. Depois de um longo período de tranquilidade, a comunidade viveu um caos, onde os grandes prejudicados foram, na verdade, os residentes no Jacarezinho – que não podiam circular a comunidade, sequer sair de casa, sem o risco de sofrer algum tipo de violência, de ambos os lados — , e os comerciantes, que precisaram fechar seus estabelecimentos. Apesar dos problemas, os pais mantiveram a rotina de enviar seus filhos para a escola, mesmo com o medo estampado nos seus rostos.
O que causou o fim do prazo de validade da paz? Como explicar essa mudança tão radical?
Se, por um lado, houve o desafio quase insano dos traficante ao poder público (fortemente armados, eles iam de encontro aos policiais sem nenhum temor); por outro, tivemos muitos casos de truculência policial. Com a garantia da farda, a polícia usou e abusou do “direito” de agredir, invadir residências e lojas na comunidade em nome da lei e da ordem. Uma das situações que mais gerou insatisfação foi a apreensão de motos, muitas vezes apenas pelo condutor andar sem capacete.
Comprovadamente, houve abuso de poder por parte de alguns policiais, que se acharam no direito de, agir completamente à margem da lei ou melhor, acima dela. Esta certamente foi uma das razões para o confronto. Sobre outras, pouco se sabe.
O fato é que tivemos momentos tenebrosos nestes últimos dias. Aos poucos, as coisas vão se acalmando e a população retoma a normalidade do seu dia a dia. Ainda sentimos, no entanto, as consequências dos dias de confronto. Estamos a pouco mais de dois meses do carnaval, e os ensaios da Unidos do Jacarezinho, por exemplo, foram suspensos pela polícia e ainda não voltaram a ser autorizados.
Hoje, o patrulhamento dentro da comunidade é realizado pelo Bope, enquanto os policiais da UPP, por ordem do comando, se mantém nas respectivas bases . O que a população espera é que a postura dessas autoridades seja pautada no respeito aos direitos do cidadão morador do local.
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