Iniciativa da ONG Fase iniciada em 2014 realizou encontros semanais com moradoras das comunidades para mobilizar a população e gerar reflexão. Um site em construção disponibilizará os mapas construídos.
[Na foto, da esquerda para a direita: Ana Paula Epiphanio, Monique Cruz, Anelise Gutterres e Ana Paula Epiphanio. Participantes da iniciativa e moradoras de Manguinhos]
A pedagoga Ana Paula Gomes tem a voz trêmula ao telefone. O motivo: o assassinato de seu filho, Jonathan de Oliveira Lima, por policiais da UPP de Manguinhos em 2014. Mas a vontade de compartilhar sua dor foi maior. "Me faz bem faz bem falar dele", afirma ela, que mora na comunidade desde que nasceu.
Para contar sua história, reivindicar direitos e buscar justiça, Ana Paula começou a participar de uma série de encontros promovidos pela ONG Fase com o objetivo de realizar uma "cartografia social urbana" de Manguinhos e Caju.
Por meio de uma parceria entre pesquisadores e moradoras — todas mulheres —, a iniciativa envolveu encontros semanais entre cerca de 20 pessoas. Em cada encontro, histórias e experiências de vida das participantes serviam para empoderar a população e criar redes de diálogo entre as comunidades.
Iniciados em 2014, os encontros até agora resultaram em três mapas, dois vídeos e uma publicação on-line — que serão disponibilizados em um site ainda em construção. Estes produtos refletem algumas temáticas comuns percebidas nas reuniões: o problema histórico das remoções, a violência por parte de policiais da UPP e o pouco contato entre moradores de diferentes comunidades.
No caso de Ana Paula, a avó paterna foi removida do Caju, e a mãe, da favela Praia do Pinto, no Leblon. Recentemente, a própria Ana Paula e muitos de seus vizinhos passaram por uma situação parecida. Suas casas foram demolidas por obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para dar lugar a uma rodovia que ainda não foi inaugurada.
O dinheiro das indenizações pagas pelo governo era insuficiente para que os moradores comprassem novas residências. Com mais procura por novos lares, o valor dos imóveis em Manguinhos aumentou. "A cada vez que o telefone tocava era um sofrimento, porque sabíamos que eram eles [a Prefeitura] fazendo pressão”, conta Ana Paula. Os moradores remanescentes, segundo ela, atualmente vivem com medo das enchentes, pois suas casas ficaram abaixo do nível do asfalto.
Só mulheres
O primeiro ano da iniciativa desenvolvida pela Fase foi dedicado à criação de mapas e debates. Em 2015, oficinas aos sábados estimularam os moradores a discutir problemas de sua realidade. Por uma opção dos organizadores, só mulheres participaram dos encontros.
Para Rachel Barros, coordenadora do estudo, a escolha fez com que temas como racismo, gênero e violência fossem abordados com frequência nas oficinas. Formada em jornalismo e moradora do Caju, Clarisse Werneck participou do trabalho e considerou a experiência muito enriquecedora.
“Conheci duas ocupações no meu bairro: Vila dos Sonhos e Terra Abençoada", conta ela. “Moramos em um dos bairros mais poluídos do Rio de Janeiro. Nas áreas mais próximas das empresas de pó de cal e concreto, a qualidade do ar é péssima, o nariz chega a ficar duro. Esses encontros com certeza contribuem para o surgimento de reivindicações e melhorias em lugares esquecidos pelo poder público”, relata a jornalista.
Para mulheres como Ana Paula, os resultados da iniciativa vão muito além dos dados recolhidos. A experiência positiva fez com que ela entrasse em contato com outras mulheres e pudesse amenizar um pouco sua dor. Eu preciso de forças e, de alguma forma, passar forças também”, diz ela.
Prometida por Eduardo Paes para o ano passado, obra depende agora do aval de Marcelo Crivella
Visitante acusa namorado de funcionária de discriminação durante ida ao local na última sexta (30)
Livro reúne soluções mirabolantes já propostas para os problemas de um dos principais cartões-postais do Rio