Sem verbas públicas, espaço de ’coworking’ Gomeia surge como centro de articulação entre grupos atuantes na cultura na Baixada
Diversidade é a semente que faz nascer a inovação, matéria-prima da economia criativa. No Vale do Silício, que visitei no ano passado, é comum vermos asiáticos, latinos e africanos trabalhando nas empresas de tecnologia. Não se trata de uma ação de responsabilidade social, mas sim do combustível que faz andar a economia criativa.
Pessoas diferentes geram respostas diferentes, justamente o que busca quem deseja inovar. Não sairia nada de novo se as empresas de lá fossem compostas apenas por jovens, brancos, nascidos nas grandes cidades dos Estados Unidos.
A Baixada Fluminense é formada por uma pluralidade de pessoas: negros, nordestinos, índios, campesinos, trabalhadores da indústria e de serviços; cristãos, candomblecistas, umbandistas... Essa mistura gera um caldeirão cultural, que chegou a fazer o cineasta Nelson Pereira dos Santos chamar Duque de Caxias de “a capital cultural do país”.
Soma-se a isso a impossibilidade de empreender pelas vias tradicionais, por conta de dois fortes motivos: a falta de grana e a violência. Como consequência, o morador da Baixada precisa inovar, ser criativo. O que na Zona Sul do Rio é entendido como fruto de cursos e estudo, aqui na BF está no DNA de todos.
Nessa linha, jovens de vários municípios da região criaram um coworking de economia criativa com o objetivo de fortalecer a rede cultural já existente. Quando um grupo ganhava um edital, chamava outros coletivos para realizarem as tarefas como vídeos, sites e produção. Isso acontecia de forma desorganizada, porém constante.
O pulo foi concretizar essa rede sob um teto. Foi aí que nasceu o Gomeia - Galpão Criativo, um local de trabalho conjunto que também é um espaço cultural, o que gera renda, ajudando a pagar os custos. Essa lógica de sustentabilidade foi pensada pelo fato de muito dificilmente alguém da Baixada ganhar editais de incentivo cultural de ministérios, secretarias e empresas públicas. Cansados de ficar apenas reclamando, decidimos atuar independentemente do poder público. Esse modelo foi experimentado com sucesso na ‘Lira de Ouro’, ponto de cultura de 59 anos que sobrevive sem recursos públicos.
Reunimos então sete empreendimentos criativos da Baixada: Cineclube Mate com Angu, a produtora cultural Terreiro de Ideias , Dunas Filmes, Memory Audiovisual, Virtù Produções, Popular Arquitetura e a empresa Aguassu, de cultura digital. O primeiro passo foi fazer um crowdfunding pela plataforma Benfeitoria. Arrecadamos mais de 30 mil reais a fim de reformar o galpão de 360 m². Para fazer o coworking acontecer, precisávamos de reformar o telhado e as instalações de água e energia do local, que estava abandonado há vários anos e servia como depósito de material de construção.
Localizado no centro de Duque de Caxias, o galpão já está funcionamento desde setembro e busca agregar novos parceiros à rede. Em breve, lançaremos uma convocação para interessados na incubação de seus projetos. Hoje há uma massa de empreendedores individuais que precisa crescer. Muitos deles são jovens que atuam com o digital (audiovisual, mídias sociais, design, sites e apps) e que não encontram visibilidade para além de seus bairros ou cidades. O Gomeia faria essa aceleração no campo da economia criativa.
O nome do coworking é inspirado no Joãozinho da Gomeia, uma celebridade entre anos 50 e 70 que recebia em seu terreiro a visita de importantes artistas e políticos da época como Getúlio Vargas, JK, Marlene, Ângela Maria, Cauby Peixoto e Grande Otelo. Para ter uma noção, seu apelido “Rei do Candomblé” foi dado pela rainha Elizabeth II, durante viagem ao Brasil. Ele inovou ao tornar pop as danças e os cantos africanos, até então acessíveis apenas aos praticantes da religião.
É um pouco disso que queremos fazer no Gomeia: um espaço criativo, pra cima, economicamente sustentável e que atraia os olhares não apenas do Rio, mas do mundo. Essa é a vocação da Baixada Fluminense.
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