O portal Brasiliana Fotográfica é uma parceria entre a Biblioteca Nacional e o Instituto Moreira Salles. Com mais de 2 mil fotos, seu objetivo é integrar instituições, nacionais e internacionais, para a construção de um grande acervo fotográfico sobre o país
Um grande número de fotografias sobre o Rio de Janeiro faz parte do acervo Brasiliana Fotográfica, lançado no dia 17 de abril. Cenas do cotidiano, registros de obras e eventos, construções que não existem mais, além de paisagens da cidade levam o usuário a dar um passeio pela história da cidade, que completou 450 anos em março.
As 2.393 imagens catalogadas inicialmente são dos acervos da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles. Em entrevista ao Vozerio, Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS e um dos curadores do projeto, contou que a iniciativa visa ampliar a difusão dos dois acervos e mostrar a contribuição da fotografia para o conhecimento sobre a história do país. "A fotografia trabalha a memória, a educação e é por natureza uma forma de documentação. A ideia também casa com os principais acervos da Biblioteca Nacional, como a Hemeroteca Digital", disse, referindo-se aos periódicos digitalizados.
Joaquim Marçal, pesquisador da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional que também selecionou as imagens da Brasiliana, explicou que a parceria entre as duas instituições é só o início para a construção de uma grande mostra sobre o país. Já expressaram interesse em participar da iniciativa o Arquivo da Marinha e o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, que guarda as imagens de Augusto Malta. "Malta foi um dos fotógrafos mais importantes da cidade, ele registrou a reforma de Pereira Passos no início do século XX", ressaltou Marçal, entusiasmado. Sergio Burgi completou: "esse projeto é um convite para que outras instituições, nacionais e internacionais, se juntarem a nós".
Joaquim ressalta que a consulta ao acervo, além de gratuita, é fácil. O site foi desenvolvido em DSpace, ou Sistema para Construção de Repositórios Institucionais Digitais, um software que funciona como repositório aberto e gratuito. Segundo o pesquisador, esse sistema permite associar imagem e informações sobre o acervo a que pertence, autor, data e outros itens relacionados. A busca pela expressão "Rio de Janeiro", por exemplo, resulta em 850 registros, uma porção considerável do total de 2.393 imagens. "Isso tem muito a ver com o momento do Rio [os 450 anos] e por já ter sido capital da República, o que influencia uma produção fotográfica abundante", explica Sergio Burgi.
Outro destaque do projeto é a ferramenta de zoom, que permite ver detalhes minuciosos do registro. A fotografia "pode ajudar com conteúdos que não estão explícitos nas informações sobre ela. É importante que a pessoa possa explorar a imagem", diz Sergio. Por isso, para integrar o projeto, as instituições interessadas terão de disponibilizar imagens em alta resolução. Todo o conteúdo pode ser compartilhado nas redes sociais.
O Vozerio selecionou algumas imagens interessantes do Rio de Janeiro. Para contar um pouquinho da história que elas retratam, reproduzimos trechos de jornais das edições digitalizadas da Hemeroteca Digital, da Biblioteca Nacional.
1. Procissão de Corpus Cristi na Rua Primeiro de Março (1870, Henrique Revert Klumb)
A procissão foi anunciada na véspera, dia 15 de junho de 1870, no Jornal da Tarde. Na pequena nota, o local pode ser identificado: Capella Imperial, atual Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, no Centro.
2. Obras no reservatório da Tijuca
Umas das intervenções para o abastecimento de água do Rio de Janeiro durante o século XIX. Existem várias fotos das obras nos reservatórios de outros bairros da cidade no Brasiliana Fotográfica (1877-1882, Marc Ferrez)
Com a utilização do zoom é possível ver muito mais detalhes da obra:
3. Missa celebrada em ação de graças pela abolição da escravatura no Campo de São Cristóvão (1888, Luiz Antonio Ferreira)
A missa foi notícia no jornal Imprensa Fluminense, no dia 21 de maio. A presença da Princesa Isabel (a esquerda na foto) é mencionada: "No dia 17 foi celebrada com grande esplendor a missa campal na praça de D. Pedro I, com assistência de S.A.I Regente, seu Augusto Esposo e sua corte [...] representantes de todas classes sociais, e uma ocorrência de povo de cerca de 30.000 pessoas". Segundo o texto, logo depois, tropas fizeram um desfile em homenagem a Princesa.
4. Registro de uma ressaca na Avenida Beira-Mar (1913, Carlos Bippus)
A famosa ressaca de 1913 foi destaque na primeira página do jornal A Noite, no dia 8 de março. Na matéria "Todo o litoral está ameaçado de destruição", diz o jornal, acrescentando que "as ondas, de altura raramente vista, atingiam diversos metros e caiam com grande estardalhaço, além da pequena muralha do cais da Avenida Beira Mar. Muitos curiosos ficaram completamente molhados". O texto ainda fala sobre a queda de parte do muro e que o trânsito na Rua Senador Vergueiro foi interrompido.
5. Antigo Palácio Monroe (1910, Augusto Malta)
Em 1904, o Palácio Monroe foi montado para participar de um prêmio em arquitetura em Saint Louis, Estados Unidos. A construção recebeu o primeiro lugar. Demolida, sua estrutura de metal permitiu que o Palácio fosse remontado no Passeio Público. A demolição do Palácio causou polêmica em 1976, durante a ditadura militar. O antigo jornal Diário de Notícias publicou uma nota em 10 de janeiro de 1976 que dizia: "Segundo o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, não há um só argumento favorável a demolição do Palácio Monroe, que não atrapalha o tráfego, pois até mesmo o metrô sofreu alterações em seu traçado para se desviar do prédio".
6. O carnaval na Avenida Rio Branco (1932, Guilherme Santos)
O desfile dos ranchos carnavalescos ocupou toda primeira página do jornal Correio da Manhã no dia 9 de fevereiro de 1932. A reportagem "Em plena folia" traz fotos deste gênero de festejo, origem das escolas de samba na cidade, segundo alguns historiadores. "Como vem acontecendo há vários anos, efetuou-se ontem na avenida Rio Branco, o certamente denominado "Dia dos Ranchos".