Espaços coletivos com acesso a internet tem muito mais a oferecer do que apenas permitir acesso as redes sociais e jogos on-line. Oficinas e outras dinâmicas que envolvam ferramentas digitais podem dar nova função às lan houses. Soluções cidadãs e qualificação profissional fazem parte do novo modelo do acesso comunitário.
[Participantes do evento promovido pelo Rio Mozilla Club/ Foto: Andre Garzia]
Durante muito tempo as lan houses foram consideradas por muitos como espaços perigosos, informais, cheios de vírus e de problemas de segurança. Acreditava-se que era lá que crianças matavam aula para cair no vício de jogos violentos e acessando o infinito mundo da internet. Por isso, no Rio de Janeiro, uma lei de 2004, revogada em 2010, estabeleceu que as lan houses deveriam cumprir a distância mínima de um quilômetro de escolas para funcionar. Isso, na verdade, é subestimar o enorme papel desses espaços e o seu potencial.
Vale lembrar que as lan houses foram espaços essenciais na democratização do acesso à internet no Brasil e aliadas fundamentais da inclusão digital no país. Elas levaram computadores e conexão banda larga para todo o Brasil e para as comunidades mais pobres. Além disso, se tornaram-se pontos de encontro e de socialização nas periferias, participando assim da formação de uma verdadeira cultura digital.
Jovens vão para a lan house para jogar, usar mídias sociais, acessar notícias e se divertir; mas usam o mesmo espaço para pesquisar, fazer trabalhos escolares e buscar emprego. E, além de tudo isso, para encontrar amigos, fazer novas amizades, interagir, paquerar. Uma pesquisa publicada pelo Comitê Gestor da Internet em 2008, no Brasil, mostrou que, durante o período, 48% de todos os usuários de internet acessaram a rede em locais de acesso público pago, como lan houses ou cibercafés. Quando se trata de usuários das classes D e E, o número passava para 79%.
Hoje, a difusão de celulares com preço acessível fez com que a situação mudasse. Brasileiros agora acessam a internet principalmente por meio desses aparelhos, deixando as lan houses desertas, obrigando muitas delas a fechar ou a diversificar seus serviços para tentar permanecer rentáveis.
As perguntas agora são: como resgatar o potencial desses espaços que já foram tão importantes na história da cultura digital nas periferias? Como reaproveitar esses locais que estão sendo abandonados e que eram pontos de encontro?
Os benefícios dessa expansão do acesso à internet nas populações de menor renda ainda são restritos, como menciona um estudo de 2016 do Banco Mundial. De fato, a questão hoje não é somente o acesso à internet, mas também pensar em como ajudar essa parte da população a se apropriar cada vez mais das tecnologias digitais para tirar delas maiores benefícios, o que muitos chamam de empoderamento digital. Ese esse fosse o novo papel das lan houses?
É com esse propósito que a Fundação Mozilla, em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e com o apoio da Fundação Ford, começou a desenvolver no ano passado o Rio Mozilla Club. O objetivo desse projeto piloto? Estudar e testar em algumas lan houses da periferia do Rio de Janeiro metodologias e ferramentas para ensinar usuários de internet a criar e construir na rede (tornando-os WebMakers) e fora dela (com makey makey, robótica, construção, etc.). De fato, a Mozilla vê no projeto a possível transformação das lan houses em espaços de empoderamento nas periferias.
O objetivo final do Rio Mozilla Club é criar um ambiente e oferecer atividades nas lan houses para capacitar pessoas individualmente ou coletivamente, ajudando cada um a descobrir ou redescobrir algo de si e de seu potencial e facilitando a materialização dessa vontade criativa. Essa materialização da criatividade pode ser uma ponte para a inovação e a melhoria do desenvolvimento socioeconômico nas regiões do projeto. Alguns participantes podem criar algo que lhe trará melhores condições de vida, outros podem se dedicar a resolver problemas locais na comunidade - por aí vai.
Mas as lan houses também poderiam ter várias outras funções. Que tal pensarmos nelas como potenciais salas de aula do futuro? E se a lan houses fosse um espaço no qual os usuários pudessem assistir e participar de cursos online oferecidos pelas melhores faculdades do Brasil e do mundo, onde os usuários pudessem se unir em grupos de estudos e discussão online ou offline? Poderíamos ainda pensar as lan houses como espaços de cidadania e serviços a cidadãos online.
Modelos de negócios estão sempre se reinventando. Existe uma vasta gama de possibilidades para o futuro das lan houses, todas com um enorme potencial transformador. Melhor abrirmos o olho para esses espaços. As novidades devem chegar logo.
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