Uma mostra apresenta ideias para aumentar o respeito entre os cariocas no Museu do Amanhã a partir desta terça (04). O evento é organizado por ONG inglesa fundada por Richard Sennett, professor da Universidade de Cambridge. Para o pensador, a atuação de empresas em diferentes pontos do planeta diminuiu o contato das pessoas com o diferente e resultou no aumento das hostilidades
Foto: Jovens participam na favela da Maré do projeto Paginário, um dos selecionados para a exposição (Douglas Lopes/DesigningRespect.com)
Como aumentar o respeito entre os moradores da cidade do Rio? Uma exposição reúne respostas para essa pergunta a partir desta terça (04) no Museu do Amanhã. O evento é organizado pela ONG inglesa Theatrum Mundi, que tem entre seus fundadores o pensador americano Richard Sennett. Em entrevista sobre o tema, o historiador e sociólogo afirmou que as relações econômicas cada vez mais globais estão diminuindo a consideração entre as pessoas. "O respeito têm de existir onde as diferenças se encontram", defendeu o professor da Universidade de Cambridge.
Para Sennett, o surgimento de empresas que atuam em diferentes pontos do planeta gerou uma lógica que desconsidera o contexto de cada cidade. "Um prédio de escritórios em São Paulo é igual a um prédio de escritórios em qualquer lugar do mundo", diz ele. Por consequência, passaram a existir menos locais que colocam grupos diferentes em contato. O pensador afirma que um efeito colateral desse afastamento foi o aumento da hostilidade, como se pode verificar nos distúrbios étnicos em Charlotte e outras cidades americanas ou mesmo na relação entre os cariocas do asfalto e da favela. "A globalização hoje não envolve mais negócios e dinheiro, mas negócios e lugares", resumiu o autor do livro "Respeito: A Formação do Caráter em um Mundo Desigual", lançado no Brasil em 2004.
Uma reunião organizada no Rio pela Theatrum Mundi em março desse ano escolheu o respeito como tema para a edição brasileira do projeto Designing Politics. Todos os anos, a iniciativa desafia os moradores de uma determinada cidade a pensar possíveis soluções para um problema daquele local. "Por ser um assunto que envolve temas como machismo, autoritarismo e outras questões, o respeito galvanizou opiniões", explicou Adam Kaasa, sociólogo e diretor da ONG, que recebeu 62 ideias entre julho e setembro. A mostra que começa amanhã reúne 14 delas, selecionadas para o evento por um júri e por seus próprios autores, que também puderam votar. Na mostra, os projetos serão apresentadas com texto e foto.
Um museu no Chapadão
Marjan Rosa organiza rodas culturais com grafiteiros, artistas de circo e outras atrações desde 2012 em seu bairro. Ele é morador do Complexo do Chapadão, conjunto de favelas localizado na zona norte do Rio, e teve sua ideia selecionada para o Designing Respect. O ativista propôs a transformação da biblioteca abandonada de um ciep de sua comunidade em um museu de arte urbana. "Muitos jovens daqui nunca foram a uma galeria de arte e nossos artistas não têm onde expor", afirmou ele, que pretende tirar o projeto do papel com a projeção oferecida pela exposição. "Estar lá vai nos ajudar a conseguir financiamento para isso", explicou Marjan.
Uma casa de acolhimento para mulheres vítimas de violência, um aplicativo de celular para denúncia de maus tratos a animais e uma intervenção artística na qual páginas de livros são coladas nos muros da cidade foram outras ideias propostas no desafio. "Para nós, o respeito existe em uma sociedade quando todos desfrutam do mesmo nível de visibilidade e têm a mesma condição de acessar oportunidades", afirmou Adam. Segundo ele, versão carioca da iniciativa se diferenciou das anteriores pelo caráter pragmático da maioria das soluções e o perfil heterogêneo de seus autores. "Nas edições de Nova Iorque e Londres, realizadas nos últimos dois anos, a maior parte dos proponentes eram acadêmicos. Aqui, participaram universitários e pessoas comuns, o que foi bom para o projeto", comentou o diretor da ONG.
A grande quantidade de propostas relacionadas à gênero, etnia e transformação do espaço urbano nas três edições do Designing Respect chama a atenção. Para Adam, isso é sintoma de questões que emergem ao mesmo tempo em várias partes do mundo e exigem novas soluções. "Não temos dinheiro para tirar as ideias do papel, mas esperamos que a visibilidade que o desafio dá a elas permita que algumas se tornem realidade", afirma ele. A mostra no Museu do Amanhã vai até 23 de outubro.