Visitas guiadas por bairros do Rio ensinam a valorizar a herança cultural e histórica da cidade. Neste domingo, o destino é a Penha.
(Foto: Pedro Kirilos/Riotur)
O Morro do Alemão recebeu esse nome devido a um mal-entendido: os primeiros proprietários das terras da região eram poloneses, mas os outros moradores, com olhar generalista, os chamavam apenas de alemães. Essa é uma das histórias que será contada em mais uma visita guiada do Rolé Carioca, projeto que chega no domingo (dia 25) à Zona da Leopoldina, com destaque para a Penha.
O passeio, gratuito, começa às 9h na estação de trem da Penha e vai até o Santuário de Nossa Senhora da Penha, passando pelo Curtume Carioca e pela Paróquia Bom Jesus. Não é preciso se inscrever previamente.
“É um mergulho íntimo na Leopoldina”, explica Rodrigo Rainha, professor de História da Universidade Estácio de Sá, que coordena o projeto ao lado de William Martins, seu colega na universidade. Para Rodrigo, é uma oportunidade de "fazer as pazes" com a região, que ele acredita ter sido abandonada com o tempo.
O roteiro é o penúltimo da terceira edição do evento, que integra a programação oficial dos 450 anos da cidade. A última parada será no Saara, no Centro, em 29 de novembro. A iniciativa, que começou em 2013 e já percorreu quase 20 bairros da cidade, é promovida pelo M’Baraká, estúdio de cultura e design.
“O que o Rolé tem de diferente é a linguagem popular”, aponta Isabel Seixas, sócia-fundadora da M’Baraká. Isabel acredita que o carioca conhece pouco a sua história, e revela que ela própria aprende com os passeios. “A cada Rolé me surpreendo”, conta.
Para Rodrigo, existem dois aspectos essenciais para manter a atenção do público. O primeiro é o bom humor, muitas vezes apostando no improviso. “Falar de história é uma coisa que deve ser muito divertida”, destaca.
Em um passeio realizado em São Cristóvão no ano passado, por exemplo, o historiador, que é flamenguista, brincou com a rivalidade entre rubro-negros e vascaínos para questionar a história de que o Vasco foi o primeiro clube a aceitar negros em seu elenco.
Outra estratégia é criar uma identificação das pessoas com o que está sendo apresentando. “A identidade passa por reconhecimento, e reconhecer significa que você explica aquele processo, dá sentido, faz com que ele faça parte da sua vida. A partir do momento que você se vê na rua, você passa a estar interessado”, afirma.
Para Rodrigo, uma maneira de fazer isso é mostrar aos participantes que os problemas da cidade fazem parte de um todo. "Somos tratados como tratamos as calçadas da cidade. Se não valorizamos a cidade, ficamos jogados", avalia. Ele questiona também a separação entre morro e asfalto. "Se, na Penha, eu tiver vergonha de mostrar o Complexo do Alemão, estou esquecendo a história do Rio", critica.
Planos incluem passeios bilíngues e roteiros noturnos
A média de público gira em torno de 500 pessoas. O recorde foi em Paquetá, quando havia entre 800 e 1.000 presentes. O número de professores que acompanha o trajeto varia de acordo com a expectativa: o ideal, para os organizadores, é um professor para cada 100 participantes. Muitas vezes alunos são chamados para atuarem como monitores.
Segundo Isabel, o público, no começo, era formado por um público específico, principalmente de estudantes de História. Agora, tornou-se uma opção de lazer, e recebe muitas famílias, incluindo crianças.
A origem dos participantes é variada. “Cada bairro tem um perfil”, diz Rodrigo. Em Paquetá, por exemplo, foram muitos cariocas que só tinham ido na ilha quando crianças. Em Santa Cruz, o predomínio foi de moradores do próprio bairro, enquanto em Madureira apareceram pessoas de toda a Zona Norte. Já o Centro sempre atrai muitos turistas.
Para a edição do ano que vem, já confirmada, Isabel revela a intenção de fazer roteiros ligados à Olimpíada. Ela também pretende oferecer passeios bilíngues, que possam atrair os turistas, e noturnos, para alcançar novos públicos.
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