por José Arnaldo Rossi
Vivemos tempos confusos com a mistura de percepções e sentimentos. Após as festas de Momo, continuamos de ressaca. Já se disse que herdamos dos Tupinambás duas características. A primeira, a vocação da dança; a segunda, uma certa cara de espanto diante da realidade que, com os tempos, para nós, mudou-se no que chamamos de “carioquice”. A capacidade de rir de tudo, inclusive zoando ou zombando de nós mesmos.
Cid Benjamin, em manifestação recente, pede ajuda de Mario Quintana para resgatar a utopia e surpreende-se com a nossa incapacidade de entender as virtudes republicanas básicas. A igualdade de todos perante a lei e a representação política expressa na renovação de mandatos dos governantes.
Precisamos exercer uma outra característica nossa: a coragem de inventar
Que bela utopia. Dessas que se transformam politicamente pensadas em objetos autônomos, com luz própria, do desejo dos homens. É hora de transformar a democracia representativa, calcada em valores republicanos básicos, em objeto de desejo coletivo. Afinal, igualdade e representação são valores mais que desejáveis, além de praticas de distribuição de riqueza, para que a democracia não fique só “burguesa”, adjetivo com que se qualifica, hoje ainda, a naturalização da desigualdade através da categorização, no consumo, de todas as formas de invenção de classe social. Na prática, ficamos adiando o enfrentamento da desigualdade, ancorada na nossa incapacidade de encarar políticas de educação que, no século XXI, deixem para trás nossas vergonhas do século XIX.
Temos a chance de fazê-lo, nós cariocas, síntese para nosso orgulho de um grande Brasil, ainda de ressaca, mesmo depois no carnaval esgotar nossa vocação para a dança. Precisamos exercer uma outra característica nossa: a coragem de inventar. Que tal se ousássemos a recuperação dos “corpos intermediários” da democracia americana para, a partir da sociedade, controlar o Estado. Ou você acredita que entre as organizações não governamentais possamos recuperar o papel das principais entre elas, partidos políticos e sindicatos, os primeiros com saques indiscriminados ao Fundo Partidário que, com o dinheiro de todos, só produziu até aqui interrupções no horário nobre da TV, reproduzindo imagens novas que se renovam a atender todas as demandas possíveis proferindo as platitudes de estilo.
No que toca aos sindicatos, que dizer de centrais sindicais cevadas a partir de recursos públicos, dinheiro de todos, oriundos de contribuições obrigatórias que nada justifica?
Sejamos dignos das nossas mais antigas virtudes expressas na cultura dos Tupinambás. Mãos à obra.
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