Neste sábado (30/4), será inaugurado um enorme painel de azulejos na casa de uma das moradoras mais antigas da Maré, Zona Norte do Rio. Parte do projeto Correspondências Cariocas, da ONG Redes da Maré, a obra é a primeira de uma série que pretende transformar a rua numa galeria a céu aberto.
A casa da dona Severina, na Nova Holanda, Complexo da Maré, está com uma cara diferente: a fachada, antes de tijolos azuis-claros, agora é um grande painel de azulejos que conta a história do Rio. As 1.300 peças foram pintadas por 42 duas crianças integrantes do projeto Correspondências Cariocas, desenvolvido pela ONG Redes da Maré. O painel será inaugurado neste sábado (30/4), às 11h.
É o primeiro passo para a concretização de uma ideia bem mais ambiciosa. "Queremos criar uma galeria a céu aberto", sintetiza Eliana Souza e Silva, diretora da organização. O objetivo parece estar encaminhado: vários outros moradores, ao verem o painel na casa de dona Severina, ofereceram suas próprias fachadas para outras obras de arte criadas pela própria comunidade. "A ideia é justamente esta, estimular uma relação diferente dos moradores com aquele espaço", afirma Eliana.
Os azulejos foram pintados em oficinas que já acontecem há dez anos na Maré, organizadas pelo Atelier Azulejaria em parceria com a Redes. Segundo a arquiteta Laura Taves, idealizadora e diretora da Azulejaria, a escolha dos azulejos como "tela" para a pintura das crianças não foi acidental. "O azulejo é um pretexto para a gente falar da cidade, da arte. E um pretexto muito interessante, porque é herança histórica e um material muito poderoso das nossas memórias", explica. Não à toa, continua Laura, muitas das crianças que participaram das oficinas chamam os azulejos de "piso".
No começo, o projeto recebia financiamento da Petrobras, que acabou em 2014. Após um tempo mantendo o Azulejaria voluntariamente, Laura e a Redes o inscreveram num edital de fomento à cultura carioca da Prefeitura, que deu origem ao Correspondências Cariocas. Nas aulas que davam para cerca de 10 crianças, Laura e sua colega Marcia Queiroz pediam para as crianças contarem suas vidas nos azulejos. "Estava tendo muita operação policial na época, então as crianças falavam o tempo todo do caveirão", conta a arquiteta. Em uma das histórias coletivas que os alunos desenvolveram durante a oficina, o final chocou a professora: aparecia o caveirão e matava todos. Paineis com esses azulejos estão expostos na sede da Redes, na Nova Holanda.
Além do painel montado na fachada da casa de Dona Severina — que mora ali há cinquenta anos e é considerada uma das matriarcas da Nova Holanda —, o projeto Correspondências Cariocas produziu também uma série de cartões postais desenhados pelas próprias crianças. Alguns deles, inclusive, foram enviados para outros países, e os alunos estão começando a receber respostas. "Vamos apresentar as respostas também no sábado, durante a inauguração", revela Laura.
Os azulejos do Correspondências Cariocas que compõem o painel na casa de Dona Severina abordam temas relacionados à história do Rio que as crianças aprenderam durante as oficinas. "Há alguns sobre a fundação da cidade, outros com índios", conta Laura. "Elas [crianças] se reconhecem no trabalho. Isso influencia muito a autoestima e o respeito que elas têm por elas mesmas e pela Maré." A instalação dos azulejos, aliás, foi feita pelo pai de uma das alunas cujos azulejos estão expostos.
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