Mapa interativo criado em universidade americana mostra a história do Rio no tempo e no espaço. Segundo criadores, projeto levará pesquisadores brasileiros para os Estados Unidos e deverá virar app.
Como se testemunha a formação e a transformação de uma cidade? Por documentos e registros históricos, diriam os historiadores. Por cartografias e planos urbanísticos, recomendariam os arquitetos. Um mapa interativo desenvolvido por professores da Rice University, no Texas, Estados Unidos, une esses dois olhares: é o imagineRio, ferramenta on-line já disponível para consulta, mas em contínuo processo de expansão, que mostra a história da cidade de 1500 até hoje.
Ao passear pela linha do tempo do imagineRio, podemos ver as primeiras construções e ruas surgindo em meio ao que antes era uma ampla superfície verde; acompanhamos a terraplanagem de morros, a drenagem de pântanos, a formação de aterros, o desmatamento, a plantação de café e até o replantio de árvores que deu origem à Floresta da Tijuca. O mapa também permite comparar a cidade de fato com projetos imaginários, que nunca saíram do papel, como o plano urbanístico do arquiteto francês Le Corbusier proposto em 1936.
"Vimos que uma ferramenta digital era mais adequada para mostrar a transformação do Rio ao longo do tempo, uma vez que a cidade precisou superar a geografia e ’projetar’ seu próprio ambiente para existir", conta Farès el-Dahdah, professor de arquitetura da Rice University e um dos coordenadores do projeto, em entrevista por e-mail. "A paisagem física e social em constante mudança do Rio ganhou uma contextualização espacial e temporal num ambiente digital onde integramos dados vetorizados, espaciais e cartográficos."
Por enquanto, o imagineRio pode ser acessado apenas por navegadores comuns, mas a ideia é transformá-lo também em app para que turistas e moradores possam caminhar pelo Rio observando como a cidade já existiu e como já foi projetada. Segundo Farès, o projeto poderá ser útil "para historiadores, que podem visualizar locais de pesquisa específicos tanto espacial como temporalmente; para arquitetos e urbanistas, que podem ver projetos urbanísticos propostos em seus respectivos contextos; para pesquisadores de literatura, que podem mapear romances enquanto visualizam bairros específicos; e para arqueólogos, que agora podem contextualizar estatigrafias complexas, tanto no tempo quanto no espaço".
Além de Farès, o imagineRio foi idealizado também pela historiadora Alida Metcalf, professora da Rice University. O projeto começou em 2009, quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que o Rio de Janeiro seria a sede das Olimpíadas 2016. "Decidimos criar um projeto que pudesse aproveitar de nossas especialidades e compor a história urbana e social de uma cidade como o Rio de Janeiro", conta Farès. Como pontapé inicial, a dupla começou a lecionar uma disciplina de três anos sobre a história urbana e social da cidade. Eles também travaram contato com a Secretaria de Urbanismo e Mobilidade de Niterói e com a Coordenação de Planejamento Territorial do Rio — além de inúmeros outros pesquisadores e funcionários públicos brasileiros que os ajudaram a acessar materiais cartográficos, iconográficos e geoespaciais da cidade.
"O mais difícil foi aprender a entender a ’linguagem’ das bases de dados", conta Farès. Para isso — construir e conectar diversos mapas e dados —, eles contaram com a ajuda do Axis Maps, uma empresa que produz mapas interativos sob demanda. "Você pode imaginar como isso foi complicado para dois humanistas, mas deu tudo certo", brinca Farrès.
Como o imagineRio ainda não está finalizado nem pretende ser de fato concluído, este ano Farès planeja convidar pesquisadores brasileiros para uma estadia na Rice University a fim de "trabalhar conosco em determinadas questões históricas, como transporte, saneamento, infraestrutura hídrica etc.". "Vamos também convidar pesquisadores para trabalhar conosco à distância e, em algum momento, tentar algum tipo de contribuição coletiva de conteúdo", acrescenta Farrès.