Especialistas em saúde, educação, mobilidade, segurança e economia apontam os principais problemas que o prefeito eleito neste domingo (30) vai precisar resolver
Foto: Cristo Redentor visto do morro Dono Marta (Tasso Marcelo/Fotos Públicas)
"A questão do financiamento e a prevenção de epidemias serão os dois grandes desafios do novo prefeito na saúde", afirma Francisco Braga. Para o professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, a limitação de investimentos federais (caso a PEC 241 seja aprovada) e estaduais (por conta da crise) vai exigir atenção do próximo gestor. Além disso, o especialista considera que a presença do aedes aegypti e outros vetores em níveis alarmantes podem levar o Rio a novos surtos de dengue e outras doenças. Francisco entende que houve avanços "indiscutíveis" nos últimos oito anos, período em que a prefeitura inaugurou mais de 140 unidades de saúde e aumentou de 3,5% para 63,5% a fatia da população com acesso à saúde da família. Porém, ele destaca que o modelo de gestão por Organizações Sociais (OSs) no setor precisará ser revisto, em função das denúncias de corrupção e outros problemas. "É preciso pensar novas soluções para a administração das unidades", afirma.
“O desafio é ter uma boa carreira para os profissionais de educação, com bons salários, formação e condições de trabalho”, avalia Léa Cutz Gaudenzi, membro do Fórum Estadual de Educação. A profissional chama atenção para a falta de um Plano Municipal de Educação (PME). “Há dois anos o documento espera para passar pela Câmara de Vereadores. O PME é muito importante porque tem metas para dez anos e dotação orçamentária”. Gaudenzi ainda defende a liberdade no currículo, e chama atenção para as realidades desiguais das escolas. Para ela, a evolução na nota do Ideb (índice que mede o rendimento dos alunos) deve ser comemorada com cautela. O Rio foi de 4.5, em 2007, a 5.6, em 2015, na avaliação do 1º ao 5º ano. No segundo ciclo, do 6º ao 9º ano, atingiu 4.3, em 2007, chegou a subir para 4.4 em 2011, mas caiu em 2015 para 4.3. “Com uma meta de nota seis, ainda é um índice baixo. Precisamos de um diagnóstico pedagógico do Rio e não um papo de gestão”.
“É difícil impedir o aumento de tarifa, que é o que paga o funcionamento do sistema”, analisa Clarissa Linke, do ITDP. Antes do governo do prefeito Eduardo Paes, em 2008, a passagem de ônibus custava R$ 2,10. Em 2012, chegou a R$ 2,90 e até 2016 o valor deu um salto para R 3,80. Segundo a especialista, muitas empresas são deficitárias, o que atrapalha a qualidade. Ela também aponta para problemas na racionalização das linhas: “Houve queda no número de passageiros”. Em meio a uma crise econômica, não vai haver recurso para grandes obras, e há problemas de infraestrutura que precisam ser consertados, de acordo com Linke. “Há questões de integração do sistema e de tarifas, além de acessibilidade. A Transcarioca é legal, mas em volta do corredor tem muita coisa a ser feita”. A especialista ainda lembra que as empresas de ônibus têm que se responsabilizar sobre o serviço, que é uma concessão pública: “Precisamos de indicadores de desempenho e qualidade, fiscalização e punição”.
"A segurança é hoje uma metáfora da situação da cidade, que tem desconfiança e medo do futuro", diz Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania. Para a cientista social, ajudar a reverter esse quadro será o principal desafio do próximo prefeito na área. O desânimo geral tem razão de ser. Ocorrências como o roubo a pedestres são menos frequentes hoje do que há oito anos, mas têm crescido nos últimos tempos. Resolver isso é obrigação do Governo do Estado. "Mas é importante que o novo prefeito demonstre que não está indiferente em relação à segurança", afirma Silvia. Ela acredita que a vigilância comunitária e o uso de tecnologia pela Guarda Municipal (GM) podem ajudar nesse sentido. A cientista defende ainda que a GM seja mais ativa na mediação de conflitos e tenha um superintendente civil, algo inédito. "Não precisamos de um coronel, mas de alguém com capacidade de gestão e o conhecimento de segurança", diz Silvia.
"Na economia, o grande desafio do próximo prefeito é criar postos de trabalho de qualidade, com salário justo e outros direitos básicos", afirma Manuel Thedim, diretor executivo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. A preocupação do economista se justifica pelo sobe-e-desce da taxa de desemprego verificado nos últimos anos na região metropolitana fluminense, na qual o Rio é a maior cidade. O indicador estava em 5,6% no fim de 2014 e chegou a 10,7% no segundo trimestre de 2016, segundo o IBGE. "É preciso também diminuir as distorções entre o mercado formal e informal", diz Manuel. Segundo ele, é impossível acabar com camelôs e outros tipos de ocupações paralelas. Porém, o novo prefeito pode oferecer linhas de crédito e outros instrumentos que melhorem as condições de quem trabalha nesta situação.