Uma pesquisa da Secretaria Municipal de Cultura, realizada pela consultoria J. Leiva, traçou um retrato do consumo de cultura nas cidades. O levantamento revela como nível escolar e renda influenciam o acesso a bens culturais. Dos entrevistados, 30% disseram nunca ter ido ao teatro; maioria prefere filmes dublados.
O que os 5.5 milhões de cariocas com mais de 12 anos fazem no seu tempo livre? A pergunta é o ponto de partida da segunda edição do Perfil Cultural dos Cariocas, pesquisa feita pela consultoria JLeiva para a prefeitura do Rio, em parceria com o Instituto Datafolha e outras organizações. O resultado foi apresentado no Seminário Perfil Cultural dos Cariocas, na semana passada (1/6 e 2/6), no Monumento Municipal Getúlio Vargas, na Glória.
O estudo apresenta uma visão panorâmica sobre o lazer na cidade, onde os espaços informais atraem mais o público do que os centros culturais. "Talvez pelo clima, por passar mais tempo na rua ou na praia", justificou o diretor da empresa, o economista João Leiva. A pesquisa se baseou em 1.537 entrevistas, realizadas entre janeiro e fevereiro de 2015, de moradores de todas as cinco áreas de planejamento.
O levantamento examinou fatores que determinam o maior ou menor acesso aos bens culturais. Destes, um dos que parece mais importante é o nível de escolaridade. No Rio de Janeiro, 30% dos entrevistados disseram nunca ter ido ao teatro. Entre as pessoas de ensino fundamental, o percentual é de 53%; dos que tem nível superior, apenas 5% nunca assistiram a uma peça.
A renda é outro fator determinante. Nas classes D e E, 39% nunca foram ao cinema; nas classes A e B, o percentual é de apenas 1%. Com seus ingressos mais caros, o teatro é ainda mais inacessível para os mais pobres: dos cidadãos de classe D e E, 61% nunca entrou em um. Mas mesmo nas classes A e B é uma diversão que não faz parte do roteiro: 14% destes cariocas afluentes nunca foi ao teatro.
No caso dos filmes, a pesquisa tem achados curiosos. Além da predominância dos cinemas de shopping (frequentado por 96% do público, contra 21% de cinemas de rua e 19% em espaços culturais), os dados mostram que o desinteresse é a principal razão para não ir ao cinema: 35% citaram o motivo. Outras razões lembradas foram falta de tempo (27%) e dinheiro (21%). Ao mesmo tempo, 75% dos frequentadores disseram que a história é o fator mais importante na escolha do filme (a seguir, foram lembrados gênero, com 56% e elenco, com 46%; só 18% citaram críticas). A maioria do público (70%) prefere ver filmes estrangeiros dublados ao invés de legendados.
Segundo Leiva, a população com mais de 60 anos é a que mais sofre com a exclusão cultural. Chamada de “geração perdida” pelo pesquisador, os idosos ficam para trás em todas as atividades, menos na categoria concertos. João Leiva menciona as possíveis causas: “Essa faixa etária teve pouquíssimas possibilidades de educação e acesso à cultura se comparada as gerações posteriores. A mobilidade também é um fator importante, assim como o distanciamento da comunicação digital, no isolamento cultural do setor”.
O estudo também revela diferenças do consumo cultural. As Zonas Norte e Oeste apresentam os piores resultados no acesso à programação cultural. Só 27% dos moradores da Zona Oeste e Zona Norte foram ao teatro nos 12 meses anteriores à pesquisa; na Zona Sul, o percentual é de 47%. Só 25% dos habitantes da Zona Norte e 28% da Oeste frequentaram um museu no período; em comparação, na Zona Sul o percentual foi de 47%. Festas populares e circo registram diferenças menos prenunciadas.
As entrevistas também identificaram padrões diferentes nas várias cidades da região metropolitana. Niterói apresenta índices muito próximos aos da cidade do Rio de Janeiro -ou até melhores- na prática de atividades culturais, contou Leiva. " Um terço dos entrevistados de Niteroi consome cultura no Rio. Assim, eles tem acesso à oferta cultural nas duas cidades. Isso é facilitado pela rotina de trabalho, já que muitos trabalham na capital".
O consultor enfatizou que em tempos difíceis para as instituições culturais, é fundamental pesquisar sobre o tema. “A área cultural tem uma carência enorme de dados. Se desenvolvermos o hábito de coletar e analisar os indicadores, teremos uma clareza muito maior das áreas carentes, do que desenvolver, onde aplicar recursos” . Um caminho para ampliar o público, acredita é trazer a cultura para a sala de aula: "Não podemos depender apenas do trabalho educativo feito em museus e teatros. Precisamos trazer a cultura para o cotidiano escolar".
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