A família da professora de 65 anos é formada por servidores do estado: a filha é policial militar, o filho é bombeiro e a irmã é pensionista. Com os pagamentos atrasados, ela resolveu vender empadas. Estado alega que 77% dos servidores receberam esta semana a primeira parcela dos salários, de R$ 850.
“Foram 30 anos em sala de aula. É muita falta de respeito”, conta a professora aposentada Nadia Cassiano de Oliveira Cabral da Silva, de 65 anos. As palavras foram ditas com uma mistura de orgulho e pesar, enquanto descansava nas escadarias da Alerj, depois de carregar por quatro horas uma bolsa-térmica. Na quarta-feira, 16, ela saiu de Comendador Soares, bairro de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para ir ao protesto organizado por servidores do estado. Os manifestantes tentavam impedir a votação do pacote de austeridade enviado pelo governador Luiz Fernando Pezão.
Com o salário atrasado, Nadia viu na manifestação a possibilidade de juntar o protesto por direitos com o ganho de algum dinheiro extra. Só no cartão de crédito, ela tem dívida de R$ 600. Ela não consegue contabilizar o cheque-especial. Diante de uma situação financeira caótica, a professora aposentada de história e geografia passou a vender empadinhas para a vizinhança em setembro. Foi ao Centro do Rio com a esperança de um bom faturamento. “São duas por R$ 5. Perto de casa vendo cerca de 20 ao dia. Se não conseguir acabar com o estoque, volto vendendo no trem”, contou.
O governo informou, na última sexta-feira, que depositou os salários dos ativos da educação e de ativos e inativos da segurança. O restante, como Nadia, passaria a receber a partir desta quarta-feira (16), em parcelas progressivas: “Fui no banco antes de chegar aqui e não tinha nada. Como a gente vai viver assim? Não tenho dinheiro nem para a ração do cachorro.”
Toda a família de Nadia convive atualmente com a incerteza da crise no estado. A professora aposentada não tem como pedir ajuda à irmã, que é pensionista. Por isso, conta com o apoio da filha, policial militar, e do filho, que é bombeiro. Ambos, por hora, estão com os pagamentos em dia. Ela não sabe como será a ceia de Natal com os filhos e os dois netos este ano. “É muito triste chegar a uma situação assim nesta idade. Se não for firme, a gente entra em depressão”, disse com a voz embargada.
Na manifestação, Nadia não conseguiu atrair interessados nos salgados. Desistiu das vendas e voltou com a bolsa repleta de empadinhas para casa.
A Secretaria de Planejamento e Gestão informou que o “Governo do Estado quitou, ontem (16), 77% do total da folha de R$ 2,1 bilhões do funcionalismo, ao depositar R$ 198,5 milhões nas contas de servidores ativos, inativos e pensionistas”. A quantia depositada foi de R$ 850 por funcionário. Até o próximo dia 5 de dezembro, o Estado fará outros seis depósitos. Ainda segundo a secretaria, o calendário só será cumprido se não houver novos bloqueios das contas do Estado.